Nota
hoje me senti sozinha. faz um tempinho que não chorava mais de saudades.  a repressa vazou. talvez o gosto do bolo de milho - aquele que comia antes de te encontrar - foi o gatilho para a memória. doído lembrar. desejei por um momento o passado. carro parado no meu portão. mochila nas costas. abri a ferida hoje. não cicatrizou. deixa eu chorar. não está tudo bem. sem fingir.
Publicidade
Nota

venho pensando em te processar.

juntar todas as notas e te cobrar por todos os recursos que

[precisei]

[preciso]

utilizar para recolher os pedaços do meu coração que você estilhaçou.

quisera eu não sentir mais dor.

venho pensando em te processar.

Nota

sou reticências. sempre fui da continuidade. pausas entre vírgulas. respiro entre ponto e vírgula. nos últimos anos apenas um ponto fez morada nos meus textos, um ponto final. final. fim. parar de vez. apertar o freio bruscamente. derrapar. cair. não tive opção. foi necessário finalizar as frases que deixei com reticências. achei que não conseguiria apagar os dois pontos, dos três, e usar apenas um. sigo buscando transformar um ponto final num ponto de recomeço. dói e não sei como se faz. não vou desistir de passar a limpo as páginas que foram rasgadas - sem piedade - do meu livro. as minhas reticências NINGUÉM, toma de mim.  
Nota

Coragem

Juntei as ferramentas que estavam à disposição e entre um tropeço e outro segui. A sensação de seguir é indescritível. Meu rosto já não está “carrancudo”, tem brilho no olhar. Me sinto presente em mim mesma. Existe muita coisa para ser vivida e vista. Entrar em espaços, antes desconhecidos, é mola que me faz impulsionar. Há medo, mas também há coragem.

Nota

construindo cuidado comigo mesma?

durante essa semana me descuidei. cheguei a duvidar do meu progresso na terapia – confesso que ainda tenho dúvidas. o mês de abril é carregado de significados, há memórias boas e outras que me ferem a alma – apesar dessa já estar ferida faz tempo. não querer escrever é evitar rememorar um passado – não tão distante assim – de mágoa e sofrimento. faz um ano – mas na verdade fazem três. anos que vi a minha vida inteira tombar depois da implosão – aquelas que assistimos nos filmes. implodi e tombei. os pedaços ainda estão espalhados – existe a possibilidade de não encontrar todos eles – alguns viraram pó. não consigo mentir para mim mesma e nem para as pessoas quando me perguntam como estou. ainda não estou bem – embora o psicólogo sinalize em todas as sessões que há uma excelente evolução. até este momento choro, duvido de mim mesma e penso ter sido a “peça” que fez tudo desandar. “se eu tivesse”, “se eu fizesse”, “se eu falasse”, “se eu fosse” são frases dentre tantas outras que me assombram. qual é o cuidado comigo mesma que estou vivenciando? não quero pensar mas eu penso. penso mas não quero pensar. nossa mente é realmente um campo desconhecido. sigo pisando em falso – estou muito cansada.