estante vazia

algumas prateleiras da estante que estava nos planos – a que ficaria no escritório – ficarão vazias. nosso livros – os seus e os meus – não completará a biblioteca que sonhamos. foi difícil encaixotar seus livros que ainda estavam comigo. admirei cada um com os mesmos olhos que te admiravam. queria escrever um bilhete e escondê-lo entre as páginas. não escrevi, ingenuidade minha imaginar que você leria. guardar os livros na caixa me fez chorar. sensação de que estávamos nos separando mais uma vez. nós desfeitos. dói. sem coragem para te entregar – te ver de perto – pedi que deixassem a caixa na sua casa. quis evitar escutar o seu sorriso. sei que meus livros que ainda estão com você, também serão devolvidos. agora sou eu que receberei uma caixa. meus livros, que viram seus olhos pela última vez.

Publicidade

Caixa de azulejos

arquivo pessoal

No projeto ficou definido que este espaço seria destinado para a pia e uma bancada de mármore em forma de “L”. Lembro claramente do nosso desenho riscado num pedaço de papel. Ontem arquivando algumas fotografias me deparei com este registro , senti um nó na garganta e o gosto salgado das lágrimas que não consegui impedir que caissem. Era a imagem de um sonho sendo construído com muito trabalho e privações – escolha nossa. Fotografias mostravam o antes e depois – nossa conquista. Entreguei nas suas mãos minha caixa de azulejos e você deixou cair. Em segundos tudo se quebrou e não restou se quer um azulejo inteiro. Me machuca olhar para esta parede e saber que os meus azulejos jamais completarão os espaços vazios. Dentro da caixa estavam azulejos de quase uma vida inteira. Sonhos inteiros que seriam divididos.