há um dente quebrado,
na frente.
quebrou,
rachou,
soltou,
faltou.
riso,
incompleto.
coração,
quebrado.
carentes;
ninguém desconfia.
há um dente quebrado,
na frente.
quebrou,
rachou,
soltou,
faltou.
riso,
incompleto.
coração,
quebrado.
carentes;
ninguém desconfia.
SOLNIT, Rebeca. A mãe de todas as perguntas: reflexões sobre os novos feminismos ; tradução Denise Bottmann – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 28
A tranquilidade de um lugar quieto, da quietude do nosso espírito, da recusa das palavras e da agitação é igual, em termos acústicos, ao silêncio da intimidação ou da repressão, mas, em termos psíquicos e políticos, é algo totalmente diferente. O que não se diz pela busca da serenidade e da introspecção é diferente do que não se diz porque os riscos são grandes ou as barreiras são impeditivas, do mesmo modo como nadar é diferente de se afogar. A quietude está para o barulho assim como o silêncio está para a comunicação.
Faz muito tempo, que não tem um sábado 27, em novembro, ainda lembro daquele. Recordei isso no início dessa semana, quando precisei digitar a senha do app. Pensei em te escrever, devo ser mesmo teimosa, e já que sou... Porquê não? Não procurei pensar muito no que falar, escrevo a medida que as palavras saem. Chamar de mais uma tentativa, de mais uma chance... Não sei. Talvez eu não faça ideia do perigo escondido nessas minhas palavras, de eu mesma me machucar. Crio expectativas, difícil evitar. Será que como nos filmes, a gente pode "zerar", não no sentido de esquecer tudo, mas no sentido de reiniciar? Pensei nesse 27/11, a gente sentar, conversar... Só não dá para ter show do Calipso. Sei que não posso entrar assim na sua vida, do nada, e talvez bagunçar o que você já arrumou, não é minha intenção, nunca foi. Eu sou mesmo "exagerada" e exageradamente teimosa, te faço o convite para um café, no sábado 27, no final da tarde. Você pode recusar esse convite e tudo bem se for assim, quem sabe só tenha existido um 27/11 na vida da gente. Me sinaliza até sexta. Abç
não quero ser a amiga que lamenta, todos os dias, por ter terminado um relacionamento;
não quero incomodar;
por isso eu calo.
Ficaria com você até ficar velhinha – não por acomodação – por amor. Não precisaria fazer esforço algum para dividir meu dias com você. Não menti sobre meus sentimentos – nunca menti. Os planos seriam cumpridos – todos eles. Acho que sou a pessoa mais clichê possível, sempre acreditei que seria casa, cachorro e filhos. Você mudou… eu notei, perguntei o motivo mas você repetia “é o mesmo de sempre”, as coisas no trabalho, em casa, na vida. Continuei oferendo minha melhor versão – eu queria ajudar. Você não me deixou segurar suas mãos, e isso doeu. O discurso “sou eu e não você” gelou meu coração. Mesmo sabendo que não havia mais nada a ser feito, eu fiz. Combinados, acordos, tempo, silêncio, distância e conversas. Me machuquei em todas as tentativas. Você não queria mais, eu sempre quis. No fim, eu fui embora em pedaços, e você me pediu desculpas. Não olhei para trás, abri o portão e entrei, eu sabia que não aguentaria te dizer adeus.
estou expondo minhas dores. um lado escuro.
corpo cansado pesa sobre os pés.
renasço todos os dias. sem energia.
faço silêncio.
durante o dia engulo o choro. nas madrugadas me derramo.
duvido da minha fé. esqueço orações.
no modo automático caminho.
sem drama. é dor.
sinto.
tudo.
O Alienista, série da netflix, é bem perturbadora. Há uma frase, não sei em qual episódio, que me chamou atenção: “aqueles que estão dançando são apenas loucos para aqueles que não escutam a música”. Atribuem essa frase a Friedrich Nietzsche, filósofo, se é verdade não posso atestar. O que eu sei é que às vezes sou aquela que dança e às vezes sou aquela que não escuta a música. Assim sigo.
Constantemente lidamos com sentimentos que não sabemos nomear. Nos últimos anos busquei entender, compreender e respeitar tudo que sinto – engana-se quem pesa que é um exercício fácil – corremos o risco de encarar de frente nossa pior versão. Por diversas vezes me desconheci. Me encantei também. Ainda há muito que chacoalhar aqui dentro, muito de mim ainda é desconhecido por mim mesma. Às vezes sei dar nome a tudo que sinto, já em outras não faço a menor ideia. Ontem eu estava triste. Hoje não sei dizer o que sinto, não é tristeza mas também não é paz; não é medo mas também não é coragem; não é solidão mas também não é presença; não está escuro mas também não está claro; não é saudade mas também não é raiva. Domingo, hoje não sei te nomear.
A gente fica com medo do amor quando é machucada. Enquanto escrevo estas palavras me sentindo uma boba por ter acreditado que seria diferente. Tive o cuidado de perguntar a intenção antes de me jogar, parecia haver rede de proteção, mas eu cai no chão. Vasculho cuidadosamente meus pensamentos mas vejo apenas dor. Me fecho, dois passos para trás, encolho a testa entre as sobrancelhas. Afasto as pessoas a qualquer sinal de aproximação. Penso que talvez estejam todxs cansadxs das minhas histórias. Faz um ano… e eu pensei que seria tudo diferente, e não foi, não está sendo.