Imagem

[alerta de textão]

arquivo pessoal, 2022

Há memórias invisíveis nesta fotografia. Um registro feito no fim, quando tudo silenciou. Estava lá, na minha frente, ao alcance das mãos. Não sei dizer se cheguei tão perto ou se cheguei tão longe, mas cheguei de alguma maneira. O caminho não foi/é dos mais fáceis, houve/há dor física e na alma também. Desacreditei que chegaria perto dessa bateria novamente, tinha certeza que esse som ficaria silenciado aqui dentro, para proteger a mim mesma de algumas dores. Apertar o play e aumentar o volume talvez tenha sido meu maior ato de coragem, nesses últimos anos. Não é apenas uma foto de uma bateria, é a foto da bateria.

Publicidade

Sobre ressignificar quinze anos em cinco meses

Não tive oportunidade de escolher ficar porquê a outra parte já havia decidido ir. Existem elementos demais para ressignificar numa história de quinze anos. Todos os objetos são memórias concretas que machucam a alma. Sabores, cheiros, sons, cores e pele, meus cinco sentidos foram comprometidos. Cinco meses sem controlar as lágrimas. Todo dia aprendo mais um pouco sobre ressignificar – não é fácil – processo doloroso e solitário. Minhas fraquezas expostas como uma ferida aberta. Têm dias que parecem não ter fim – nas longas madrugadas de insônia. Olho para o calendário e me pergunto o quanto ainda falta para ressignificar, estou cansada demais.