Catarina estava de férias na cidade grande. Notava-se em seus olhos a felicidade, seria uma aventura que jamais esqueceria. Nascida e criada numa fazenda, Catarina era uma menina muito inteligente, apesar das suas condições financeiras; pela manhã freqüentava a escola – instalada nos fundos da casa de uma professora aposentada, que por opção resolveu ajudar na alfabetização daqueles que moravam ali. Pela tarde Catarina ajudava seu pai na roça e em seguida ajudava a sua mãe nos afazeres da casa – nunca fora a cidade. Sempre foi uma menina esforçada, não tinha irmãos, era o orgulho do pai e da mãe – que embora analfabetos (das letras) desejavam que Catarina estudasse.
A professora dispensou os alunos por alguns dias, teria que resolver uns problemas na cidade e convidou Catarina para lhe fazer companhia. Todos se conheciam naquele vilarejo e os pais de Catarina eram muito agradecidos aos ensinamentos da professora e lhe permitiram levar a menina para o passeio. Catarina ficou muito feliz e nem conseguiu dormir na noite anterior a viagem, pela manhã bem cedo a professora bateu na sua casa e Catarina saiu no portão com um sorriso imenso, suas tranças jogadas nos ombros e um vestido azul da cor do céu… Durante o caminho Catarina permanecia estática, encantada com a paisagem que se revelava a cada curva na estrada. Cinco horas depois chegaram a cidade e aquela movimentação deixou Catarina assustada. A professora dirigiu-se a sua antiga casa – havia sido alugada, mas os inquilinos saíram dias antes. Acomodadas na casa Catarina e a professora descansaram. À tarde saíram para um passeio. A professora mostrava a cidade para Catarina que parecia não acreditar no que estava diante dos seus olhos. Tomaram sorvete e Catarina apreciou muito o gosto de chocolate com flocos que tocou na sua língua, se divertiram enfim… A professora gostava muito da sua companhia, era uma menina alegre e muito educada.
Cansadas do passeio voltaram para casa. Catarina não se continha de tanta felicidade e adormeceu depois de tomar uma xícara de chocolate quente. Os dias se seguiram e tanto a professora quanto Catarina sentiam-se felizes; à noite, Catarina sentia saudade do pai e da mãe, mas logo era confortada com o carinho da professora – para amenizar a saudade, a professora telefonou para os pais de Catarina – e a menina contou-lhes todas as maravilhas que lhe ocorrera naqueles dias, mas não deixou de expressar a saudade que sentia de casa. No último dia, a professora levou Catarina à escola na qual havia dedicado anos de sua vida na profissão de professora. A menina ficou perplexa diante do pátio que surgia a sua frente a cada passo dado, era como se o mundo houvesse se reduzido a tudo ali contido. Elas percorreram todos os corredores passando pelas salas de aulas – que estavam vazias, era dia de férias.
No caminho de volta ao vilarejo, Catarina ficou calada por um longo tempo com os olhos vidrados no horizonte, a professora tentou puxar conversa, mas a menina sempre a respondia com uma única palavra. Ao longe Catarina avistou sua mãe na janela de casa e seu pai em pé no portão. Eles estavam com muita saudade, foi uma festa. Logo que ela desceu do carro correu para os braços dos pais contando-lhes tudo o que viveu naqueles dias mágicos, se despediram da professora e agradeceram pelo o que ela havia feito por Catarina. Naquela noite a menina foi dormir cedo, estava cansada da viagem. Seus pais, porém, conversavam na varanda iluminada por um candeeiro, eles haviam percebido algo de diferente na filha. Os olhos dela brilhavam… Havia chegado a hora de Catarina conhecer o mundo, o limite do cercado em volta da casa havia se tornado pequeno demais para aqueles olhos.
texto de Novembro/2006