Mandala Lunar, 2023, p.121. — Priscila Menezes

Tenho imaginado o tempo - o tempo em si —, a anatomia de seus espaços, sua arquitetura, sua mecânica. Tem dias em que ele é algo que cerca e abriga: um teto, uma arena, um imenso corredor. Em outros, é uma energia, uma espécie de voltagem que corre entre tudo e se potencializa a cada encontro. Às vezes, ele é fluido e cíclico feito água e, em outras, é a síntese resistente de muitas partículas, como um diamante ou um esqueleto. Há dias em que o tempo é puro fluxo, imagem borrada que passa, e, em outros, é a única coisa que resta enquanto tudo mais vagueia. Hoje eu li sobre os Amondawa que não têm, em seu idioma, palavras equivalentes a tempo ou a períodos temporais, como mês e ano. Em linhas gerais, eles não consideram o tempo como uma entidade separável dos acontecimentos: o tempo é o acontecimento. Por isso, os Amondawa não contam a idade como nós fazemos, em vez disso, eles assumem diferentes nomes em diferentes momentos de suas vidas. Fiquei pensando: isso que nós chamamos de nostalgia talvez seja, para os Amondawa, o efeito causado por um novo nome que se impõe e que ainda não é reconhecido. E a impressão de que o tempo não passa talvez seja o indício de que é preciso renomear todas as coisas, ou melhor, de que é preciso prestar atenção em todas as coisas até descobrir qual o som secreto que hoje as chama e as acorda. — Priscila Menezes
Publicidade

Mandala lunar 2022 : um caminho de autoconhecimento / organização Ieve Holthausen, Naíla Andrade. –1. ed. — Porto Alegre, RS : Mandala Lunar, 2021.p.144

“Regenerar nunca é uma questão geral, pois se trata de criar ou reativar relações corpo a corpo, sempre tentaculares, sempre parciais, sempre a cultivar, isto é a retomar sob o signo da ausência de garantia e também da dor quando a perda é irremediável.” — Isabelle Stengers

ORAÇÃO À NATUREZA


“Abrir a visão aos mistérios da vida é ter caminhado com os pés no chão, com as mãos no universo, com os olhos na ancestralidade, com os ouvidos musicais e com o amor no coração. É assumir a felicidade da vida custe o que custar até a morte, mesmo que a alma sangre, mesmo que o desamor maltrate e as lágrimas sucumbam. E o milagre explode: a sabedoria dos tempos! Por isso, oremos à natureza para que a justiça se faça.” Eliane Potiguara

*fonte: Manda Lunar 2022, p.137

“Qual a menor ação possível agora? Se você está se sentindo travada, — uma ferramenta poderosa é identificar a menor versão possível da ação que você quer tomar. A menor ação possível é tão pequena que não tem a força de nos paralisar -dá pra fazer agora. – Planejamento Selvagem

Mandala lunar 2022 : um caminho de autoconhecimento / organização Ieve Holthausen, Naíla Andrade. –1. ed. — Porto Alegre, RS : Mandala Lunar, 2021.p.93

Mandala lunar 2022 : um caminho de autoconhecimento / organização Ieve Holthausen, Naíla Andrade. –1. ed. — Porto Alegre, RS : Mandala Lunar, 2021.p.91

quarto de espelhos

eu ando pelo mundo arrancando as etiquetas que colam em mim. eu não caibo nas gavetas, caixas e prateleiras que me apresentam como destino.


minha partida é inteira. sou mais desatino e revoada do que ponto de chegada. quando me vês, sou outra, e a mulher que anda firme ao meu lado é uma versão atualizada de mim.


lamento bem pouquinho se te desagrado. e ofereço: teu olhar crítico viesse com cep, te devolveria compassiva cada uma das expectativas sobre quem você supõe que eu sou.

de brinde, te enviaria caquinhos deste quarto de espelhos que estilhaço a cada dia.

por irônico que pareça, quebradinho tem mais-valia nesse jogo que nos separa à serviço da mercantia.

por todas as vezes que me senti inadequada, o meu desagravo é me amar tim-tim por tim-tim, hoje, amanhã, sempre: respirando, acolhendo e celebrando esta que vou sendo… até o fim.

Nanda Barreto