Terminei a leitura do livro: Um teto todo seu, de Virginia Woolf, faz alguns dias. Estou buscando conhecer um pouco mais sobre a história das mulheres, a minha – nossa na verdade. Um passado de dor, luta e também conquistas. A nossa história jamais será uma lenda, a história das mulheres é difícil de ser imaginada. Iniciei a leitura logo em seguida – para não perder o “embalo” – do livro: O conta da Aia, de Margaret Atwood – confesso que levei um susto – cheguei a me questionar se já não estaríamos vivendo como essas mulheres descritas no livro, depois da leitura penso em assistir a adaptação feita para o cinema – há filme e série. Me removi das redes sociais neste final de semana – preciso de pausa – têm muito o que ser ajustado aqui dentro. Aproveitei o off-line e apertei o play na série Maid, da Netflix, mais uma história sobre a vida das mulheres, que história. O que passaram, o que passamos e o que ainda iremos passar por sermos mulheres? Somos fortes, nossas ancestrais lutaram por nós e nós estamos lutando por aquelas que virão. Há um nó difícil de desatar, o patriarcado, sempre imbricado em nossa história. Espero que não seja apenas um desejo utópico – desfazer esse laço apertado da nossa garganta. Que sigamos fazendo a nossa história. Mulheres são fortes – não tenho a menor dúvida.
Livros
“Estava à espera. Com os sentidos aguçados pelo mundo que a cercava como se entrasse nas terras desconhecidas de Vênus. Nada aconteceu”. (Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livros dos prazeres, p. 30)

imagem arquivo pessoal, 2021.
dos estudos sobre autoconhecimento
[…] autorretrato: fragmentos de uma busca de si e da sua projeção, colocando em
cena um sujeito que embora ainda não se reconheça sempre como tal, age sobre situações, reage a outras, ou, ainda, deixa-se levar pelas circunstâncias.
JOSSO, Marie-Christine. Experiências de vida e formação.2ed.rev e ampl. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2010. p. 91
para os gatilhos
uma digressão.
dedicatórias
Seriam as dedicatórias resistentes ao tempo? Palavras escritas são validadas com tinta que não se pode apagar. Dedicamos o que acreditamos cumprir. Dedicatórias são escritas pensadas no futuro? Fazemos promessas quando dedicamos. Dedicar é tempo presente? Quem escreve tem a intenção e quem lê recebe esta intenção. Não nos preocupamos se um dia aquela dedicatória deixará de fazer sentido. Talvez nem eu mesma tenha cumprido algumas das palavras que foram dedicadas a ti. Eu dediquei também.
Acredito que assim como fotografias, as dedicatórias são lembranças, palavras que se transformam em imagens. Quando se quer esquecer uma dedicatória – promessa, como faz? Cartões, cartas e fotografias são embaladas e vão para o fundo da gaveta. Mas quando as dedicatórias estão registradas em páginas de livros – dos mais variados temas – que ocupam as estantes, como deixar os espaços vazios? Não passa pela minha cabeça ofertar os livros – dedicados – e comprar novos exemplares, há muitos deles que não estão mais a venda – saíram de circulação. A única solução para as dedicatórias, a mim direcionadas, e que não serão mais cumpridas é arrancá-las uma por uma e guardá-las em uma caixa – no fundo da gaveta – junto com todos os outros objetos que me faça lembrar de você.
Não quero sentir dor ao abrir um livro – não quero transformar meu gosto pela leitura em instrumento que me fere. As dedicatórias agora são cicatrizes que devem ser escondidas, não são um prêmio – estas não. Tenho pra mim que quando não lemos esquecemos, não falo de sentimento, mas de palavras. Rasgar é destruir e não quero destruir os livros. Com um corte preciso de estilete fui descartando dedicatória por dedicatória – nem me lembro a quantidade de livros que retirei da estante para realizar esta “cirurgia” – não queria deixar vestígios, pedaço de papel – não queria abrir o livro e lembrar que ali havia uma página faltando – com a mão leve como quem pinta uma tela cortei todas as dedicatórias.
Assim vou me protegendo dos cortes que você me fez nos dois últimos anos. Guardei tudo numa caixa – pequena – lacrei. Quem sabe um dia eu consiga encará-las sem dor e talvez perceber que valeu a pena em algum momento. Escrevo essas últimas frases depois de duas taças de vinho ao som de uma playlist aleatória do spotify, me sinto leve, mesmo sabendo que haverá dias de choro e dor. Não tem mais espaços vazios na estante, recoloquei os livros no lugar, sensação de que você não está mais ali me encarando. Não derramei uma lágrima, talvez seja a “sobriedade” do álcool me dizendo que a melhor opção foi deixar ir.
[desaguar]

imagem arquivo pessoal, 2021.
Aprendizados

Brené Brown
Dos livros que li…
KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. 1.ed. – São Paulo: Planeta, 2017, p. 109.

* imagem arquivo pessoal, 2021.
dos aprendizados

“… pelas filhas que estão aprendendo a escutar a velha sábia da psique, aquela estranha sensação interior de nítida percepção, de audição, noção e ação intuitivas… pelas filhas que sabem que essa fonte da sabedoria interior é como a panela de mingau dos contos de fadas que, por mágica, nunca se esvazia por mais que se derrame seu conteúdo…
ESTÉS, Clarissa Pinkola. A Ciranda Das Mulheres Sábias: ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem. p.106.
imagem arquivo pessoal, 2020.
Clarissa Pinkola Estés
… Que você sempre se lembre de estar conectada à alma, se for visão e força o que deseja,
… e de estar conectada ao espírito, se for energia e determinação que necessitar para agir pelo seu próprio bem e pelo mundo,
…e, se for sabedoria o que quiser, que você sempre una o espírito à alma, ou seja, uma a ação à paixão, a ousadia à sabedoria, a energia à profundidade…
A Ciranda Das Mulheres Sábias, p.25.

imagem arquivo pessoal,2020.