
BROWN, Brené. Mais forte do que nunca. 2016.pag 12.

por escolha, me proteger, estou off-line faz um tempo. estar presente, on-line, não estava me ajudando a “organizar a bagunça interna”. decidi me proteger dos olhares inquisidores, das perguntas maldosas e das fotografias reveladoras que certamente me magoariam, coisa de quem teve o coração despedaçado. foi desafiador “sumir”, ficar off-line é necessário força. estou avaliando voltar a me inserir nas redes sociais, o motivo: ficar on-line. é uma contradição tamanha assumir que o on-line é necessário no momento, já adianto que estou em processo de cura ainda. antes que você, leitora e leitor, gargalharem, se já não fizeram isso, vou esclarecer. quero falar das minhas ideias, levantar a bandeira do feminismo, formar grupo de estudos sobre a história das mulheres, aprender mais sobre o sagrado feminino, compartilhar livros, buscar orientações sobre empreendedorismo feminino, ter uma rede de apoio, escutar, falar, mostrar, aprender… agregar. tem uma inquietação latente aqui dentro. não é salvar o mundo, mas de repente salvar nós mesmas do mundo, e acredito que isso já faz diferença. exposição é sobre isso e não sobre uma fotografia caprichada no filtro do faz de conta.
Clarice está aqui, me encarando de frente. Hoje, certamente ela me diria: "reage, mulher, bota um cropped".
Uma parte da força corrosiva do trauma consiste em sua capacidade de destruir as narrativas, e […] as histórias, escritas e faladas, têm um enorme poder terapêutico tanto para o narrador como para o ouvinte. As memórias normais, não traumáticas, são reconhecidas e integradas à história do eu em curso. São, em certo sentido, como animais domesticados, tratáveis, passíveis de controle. Em contraste, a memória traumática se mantém à parte, como um cão feroz, rosnando, selvagem e imprevisível.
A boa educação também.
O que chamamos de boa educação muitas vezes significa aprender que o bem-estar alheio é mais importante. Você não pode incomodar, e estará errada se perturbar os outros, em qualquer circunstância.
SOLNIT, Rebeca. A mãe de todas as perguntas: reflexões sobre os novos feminismos ; tradução Denise Bottmann – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 60
Qual o sentido do trabalho?
Trabalhar bastante, me aposentar, curtir a vida Sempre ouvi isso desde garoto
Dos meus pais, tios e amigos
Ou
Trabalhe com aquilo que você ama
E você não trabalhará nenhum dia da sua vida As duas coisas sempre foram meio sem sentido pra mim
Começando pela segunda
Infelizmente a maioria das pessoas
não consegue ganhar dinheiro Fazendo aquilo que o seu coração
ama genuinamente
Mas tudo bem
É preciso o sustento
Para ter certos prazeres na vida
Já a primeira
A ideia de adiar o prazer e se matar pelo trabalho Nunca me pareceu saudável Aproveitar a vida? Só amanhã
Acho que esse é um dos motivos
da nossa infelicidade
Adiar o prazer
Que o trabalho nos proporcione prazer Seja pelas vitórias que conseguimos ali
Ou
Pelos momentos de prazer que
o trabalho proporcionou,
uma viagem, uma conta paga no
bar em uma sexta com os amigos
Mas que você não adie a vida
Adiar a vida
Adiar é quase odiar
Por uma vogal
ZACK MAGIEZI, POETA
não há nada de errado com você
isso é crescimento
isso é transformação
decidir se proteger
se perder na multidão
tentar se resolver
sentir que alguém te usou
e não teve consideração
perder a esperança
ficar sem energia
isso é medo
isso é reflexão
isso é sobrevivência
isso faz parte da vida
– jornada
Fico sentada em meu quarto, junto da janela, esperando. Em meu colo há um punhado de estrelas amassadas.
Esta poderia ser a última vez que tenho de esperar. Mas não sei o que estou esperando. O que você está esperando?, costumavam dizer. Isso significava apresse-se. Não se esperava nenhuma resposta. Pelo que você está esperando é uma pergunta diferente, e não tenho resposta para ela tampouco.
Entretanto não é esperar, exatamente. É mais como uma forma de suspensão. Sem suspense. Finalmente não há tempo.
“Quando alguma coisa escapa da nossa consciência, essa coisa não deixou de existir, do mesmo modo que um automóvel que desaparece na esquina não se desfez no ar. Apenas o perdemos de vista. Assim como podemos, mais tarde, ver novamente o carro, também reencontramos pensamentos temporariamente perdidos.
Parte do inconsciente consiste, portanto, de uma profusão de pensamentos, imagens e impressões provisoriamente ocultos e que, apesar de terem sido perdidos, continuam a influenciar nossas mentes conscientes. Um homem desatento ou “distraído” pode atravessar uma sala para buscar alguma coisa. Ele par parecendo perplexo; esqueceu o que buscava. Suas mãos tateiam pelos objetos de uma mesa como se fosse um sonâmbulo; não se lembra do seu objetivo inicial, mas ainda se deixa, inconscientemente, guiar por ele. Percebe então o que queria. Foi o seu inconsciente que o ajudou a se lembrar”.
JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. tradução de Maria Lúcia Pinho. – 3ª. ed. especial. – Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016.
*créditos da imagem clique
ATWOOD, M. O Conto da Aia. Trad. de Ana Deiró. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. p.267
Não quero estar contando essa história.
Não quero contá-la. Não tenho que contar nada, nem para mim mesma nem para mais ninguém. Poderia apenas ficar aqui sentada, sossegadamente. Poderia me retirar. É possível ir tão longe para dentro, descer tão fundo e recuar tanto, que eles jamais conseguiriam fazer você sair.
crédito da imagem Pinterest