SOLNIT, Rebeca. A mãe de todas as perguntas: reflexões sobre os novos feminismos ; tradução Denise Bottmann – 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 22
” […] fui entrevistada ao vivo por uma mulher com uma entonação compassiva e elegante. “Então”, disse ela num gorjeio, “você foi ferida pela humanidade e se refugiou nas paisagens da natureza.” A conotação era óbvia: eu, um excepcional e deplorável exemplar, estava ali exposto, uma estranha no ninho. Virei para o público e perguntei: “Algum de vocês já foi ferido pela humanidade?”. Riram comigo; naquele momento, percebemos que todos tínhamos as nossas esquisitices, estávamos todos no mesmo barco, e que é para isso mesmo — para cuidar das nossas feridas, ao mesmo tempo aprendendo a não ferir os outros — que estamos aqui. E também pelo amor, que vem sob inúmeras formas e pode ser dirigido a inúmeras coisas. Há muitas perguntas na vida que vale a pena fazer, mas talvez, se formos sábios, nós possamos entender que nem toda pergunta precisa de resposta”.