não foi sem intenção

A partir do momento que o outro conhece o que te causa dor, fazer sangrar a sua ferida é intencional – não há dúvidas. Talvez queiram testar a sua resistência, identificar até quanto você aguenta ser socada no estômago. Não consigo afirmar com precisão a quantidade de vezes que “arrancaram” as cascas das minhas feridas, choro sempre. Volto para lugares escuros e frios, que me embrulham o estômago. Chego a duvidar de mim mesma, penso se não estou me fazendo de vítima – a “coitadinha” de coração partido – a que foi deixada. Querem medir minha dor, comparar com outras histórias. Dor não se compara, todas as dores são legítimas, não pode haver concorrência para dor. Não fui a responsável por tudo, tenho consciência disso, mas se você sabe o motivo da minha dor e me faz sangrar novamente, a culpa é sua, e sim, intencionalmente.

Nota

dizer

Ficaria com você até ficar velhinha – não por acomodação – por amor. Não precisaria fazer esforço algum para dividir meu dias com você. Não menti sobre meus sentimentos – nunca menti. Os planos seriam cumpridos – todos eles. Acho que sou a pessoa mais clichê possível, sempre acreditei que seria casa, cachorro e filhos. Você mudou… eu notei, perguntei o motivo mas você repetia “é o mesmo de sempre”, as coisas no trabalho, em casa, na vida. Continuei oferendo minha melhor versão – eu queria ajudar. Você não me deixou segurar suas mãos, e isso doeu. O discurso “sou eu e não você” gelou meu coração. Mesmo sabendo que não havia mais nada a ser feito, eu fiz. Combinados, acordos, tempo, silêncio, distância e conversas. Me machuquei em todas as tentativas. Você não queria mais, eu sempre quis. No fim, eu fui embora em pedaços, e você me pediu desculpas. Não olhei para trás, abri o portão e entrei, eu sabia que não aguentaria te dizer adeus.

Imagem

Redemoinhos

imagem arquivo pessoal, 2021

Alerta de textão na madruga

Sempre tive muito cuidado ao escutar uma história que chega, principalmente quando têm mais pessoas envolvidas. É claro que quem conta apresenta apenas uma perspectiva, aquilo que aprendemos em física, no segundo grau: “tudo depende do ponto de referência”. Considero que para me posicionar é prudente escutar todas as partes envolvidas, regra básica do direito – não sou advogada.

Me entristece escutar sobre histórias que são contadas por aí sem o devido cuidado. Viram redemoinhos enormes que nos atingem em cheio, derrubam e fazem chorar. Machuca, fere e faz doer.

Tenho alguns arranhões nos joelhos – quem não? Há uma história sendo contada, se ainda não me escutaram sinto muito, meus redemoinhos são silenciosos. Talvez um dia eu os transformem em música.

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(Canto de Oyá – Rosa Amarela)

“[…]
Minha mãe me ensinou / A ser brisa quando puder / E também me deu / A valentia de mil búfalos em uma mulher.
[…]
Que eu sou filha do vento / E não me rendo, ao mal tempo”

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texto meu. fotografia @lobo_lidiane

Status

sem pontuação

escrevo com pressa. as palavras saem sem filtro. sem tempo para correções linguísticas. quero me livrar com urgência o que está preso. como num mantra repito para mim mesma que preciso respirar. aumento o volume do fone de ouvido. busco abafar as vozes que vêm de fora. escuto apenas o que está dentro. há muita confusão. medo. dúvida. há ansiedade. correr para longe. subir o Himalaia. manter a calma. bagunçou o que parecia organizado. respira e expira. vou dar conta. acho que não aguento mais. é só mais um pouco. fé. esperar. decidir. escolher. assumir. estou cansada. muito. esforço eu faço para sorrir. jujubas coloridas me alimentam. acelerei. resiste. não desiste. reza. pede. agradece. emana luz. quero ficar no escuro. abraço meus joelhos quando deito. me maltrato. café gelado. alarme para medicação. futuro. passado. presente. faz silêncio. impaciente a perna treme. peço uma luz. aguardo um sinal. quero sair. prefiro me trancar por dentro. me afasto. me aproximo. desativo. choro. grito. como é que faz?

e tá tudo bem se eu chorar por três dias seguidos. quero ficar um tempo sozinha. não estou querendo chamar atenção. nem é birra de criança. dar conta de tudo não é perfil meu. não quero esse título. estou dentro de mim. defeitos e medos me assustam. vai passar. eu só preciso de tempo. um pouco de coragem. um punhado de fé. o gosto salgado das lágrimas. ruim é quando a gente não escolhe qual saudade vai chegar. vou seguir. talvez sem tanta pressa. a vida não deve ser uma competição de quem chega primeiro. só quero paz. quero também amor. muita saúde. me reencontrar. hoje vou ficar em silêncio. amanhã quem sabe eu dou um sorriso.

Status

um espiral

crédito da imagem Pinterest

Não tem jeito, é espiral. Superar algo ou alguém é um processo espiral, corre-se o risco de voltar – mais de uma vez – ao ponto inicial do sofrimento. Repetir. Repetir. Repetir. Doer. Doer. Doer. Quem me dera conseguir controlar meus pensamentos – eles apenas vêm sem aviso – e me derrubam. Fico silenciosa, me reservo, quero poupar quem já ouviu minha história mais de “mil vezes”. Talvez para me proteger de mim mesma eu me tranque por dentro, é só eu e eu, mais ninguém entra. Passo o dia em guerra – entre engolir o choro e sorrir – é cansativo. Chego ao final do dia exausta, sinto meu corpo pesar – quero chorar porquê estou cansada. É um processo espiral e não posso fugir, não tem outra opção senão passar por ele. Dói.

Gavetas abertas

eu figurinha

Uma semana tensa. Abri sem querer algumas gavetas que estavam esquecidas. Foi como bater o dedinho do pé na quina da mesa. Uma sucessão de quase oito dias machucando o mesmo dedo. Doeu muito. Tentei segurar o choro mas não consegui. As lembranças que eram nossas ainda me inquietam. Desconforto que não passa com remédio. É preciso muito mais que força para fechar cada gaveta.