Seriam as dedicatórias resistentes ao tempo? Palavras escritas são validadas com tinta que não se pode apagar. Dedicamos o que acreditamos cumprir. Dedicatórias são escritas pensadas no futuro? Fazemos promessas quando dedicamos. Dedicar é tempo presente? Quem escreve tem a intenção e quem lê recebe esta intenção. Não nos preocupamos se um dia aquela dedicatória deixará de fazer sentido. Talvez nem eu mesma tenha cumprido algumas das palavras que foram dedicadas a ti. Eu dediquei também.
Acredito que assim como fotografias, as dedicatórias são lembranças, palavras que se transformam em imagens. Quando se quer esquecer uma dedicatória – promessa, como faz? Cartões, cartas e fotografias são embaladas e vão para o fundo da gaveta. Mas quando as dedicatórias estão registradas em páginas de livros – dos mais variados temas – que ocupam as estantes, como deixar os espaços vazios? Não passa pela minha cabeça ofertar os livros – dedicados – e comprar novos exemplares, há muitos deles que não estão mais a venda – saíram de circulação. A única solução para as dedicatórias, a mim direcionadas, e que não serão mais cumpridas é arrancá-las uma por uma e guardá-las em uma caixa – no fundo da gaveta – junto com todos os outros objetos que me faça lembrar de você.
Não quero sentir dor ao abrir um livro – não quero transformar meu gosto pela leitura em instrumento que me fere. As dedicatórias agora são cicatrizes que devem ser escondidas, não são um prêmio – estas não. Tenho pra mim que quando não lemos esquecemos, não falo de sentimento, mas de palavras. Rasgar é destruir e não quero destruir os livros. Com um corte preciso de estilete fui descartando dedicatória por dedicatória – nem me lembro a quantidade de livros que retirei da estante para realizar esta “cirurgia” – não queria deixar vestígios, pedaço de papel – não queria abrir o livro e lembrar que ali havia uma página faltando – com a mão leve como quem pinta uma tela cortei todas as dedicatórias.
Assim vou me protegendo dos cortes que você me fez nos dois últimos anos. Guardei tudo numa caixa – pequena – lacrei. Quem sabe um dia eu consiga encará-las sem dor e talvez perceber que valeu a pena em algum momento. Escrevo essas últimas frases depois de duas taças de vinho ao som de uma playlist aleatória do spotify, me sinto leve, mesmo sabendo que haverá dias de choro e dor. Não tem mais espaços vazios na estante, recoloquei os livros no lugar, sensação de que você não está mais ali me encarando. Não derramei uma lágrima, talvez seja a “sobriedade” do álcool me dizendo que a melhor opção foi deixar ir.